sentir teu gosto
teu cheiro
aconchego de pele
sabor sentido
na boca
degustado lentamente
gosto de entrega
mergulho cego
nestas tuas águas cristalinas
VÔO
espreguiçado...
... POUSO ...
na relva dos teus pêlos...
CARÍCIA
CORPO A CORPO ATÉ
O ÊXTASE.
Ser feliz é assim:
um pedaço da gente
dançando na chuva
ao som do coração
que canta sem saber
de onde veio a letra...
se foi sem querer...
É abraçar o mundo
contente da vida
sem muito motivo
razão ou sentido
só por estar viva
e por ver um sorriso
que vem tão solto...
Ser feliz é uma fórmula,
o mapa de um tesouro
que nos dá a glória
de ver tudo em ouro
até o que não existe.
Ver a vida brilhando
entre pedras preciosas...
Ser feliz é acordar do teu lado sentindo
essa alegria intensa...
Sentir o calor do teu corpo junto ao meu...
E saber que AMAR você é tão diferente assim...
...bem assim...E o meu hoje é assim!
...bem assim...
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossege
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
[Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond]
Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassacom um insolúvel flautim.
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.
[Carlos Drummond de Andrade]
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...
[Cora Coralina[
Deixei de ouvir os sons do arrebol,
E o aroma das flores de apreciar,
De curtir áureos tons do pôr-do-sol,
Deixei. Por ti deixei... de tanto amar.
Olvidei de tanta crença, sonhos tantos,
Que me afastei de muita paixão antiga:
Leituras, preces, meditação, seus encantos,
Além da poesia – companheira e sempre amiga...
E se, de tanto amar, a tanto renunciei,
Quero crer que posso hoje, sem amarras, comentar
O sonho equivocado de que enfim eu despertei,
Sufocante, egoísta e sedutor... de tanto amar.
Mas, no ciclo das paixões a mover-se novamente,
É inútil prevenir-me desta vã constatação:
Que razão e emoção são um misto incoerente,
Traduzido em amor... desvario... excitação...
Pois agora a consciência, prudentemente, me diz
O mesmo que o coração insiste em me revelar:
Que de novo livre estou, pra ser ou não-ser feliz,
Ou, para mais uma vez, me esvair... de tanto amar.
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