sábado, 30 de janeiro de 2010

O amor acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

 

[Texto extraído do livro "13 melhores contos de amor da literatura brasileira". STRAUSZ, Rosa Amanda (org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2002].

Acabou

Não sei e não vou mais mentir
Não estou mais à tua espera
Sentimento profundo
Nova era

Triste estou sim
Mas ainda aguento
Lágrimas caem
Sentimento intenso

O mundo gira
Você sempre perdeu a razão
Amores vem
amores se vão

Não vou mais mentir a mim mesma
Não existe razão para querer mais
Realidade errada
Sonhos reais

Te quiz
Não mais te espero
A vida passa
Não mais me desespero

Fiz de tudo
Me perdeu no meio da tua loucura
Inventei mil mentiras para te testar
E hoje não resta mais a menor ternura

Vivo melhor assim sem te ter
Tiveste a chance de vencer
Disperdiçaste o verdadeiro amor
E hoje não me resta mais a menor dor

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Fênix

A fênix simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte. Possuía uma voz melodiosa que se tornava triste quando a morte se aproximava.
Quando a ave sentia a morte aproximar-se, construía uma pira de ramos de canela, sálvia e mirra em cujas chamas morria queimada e das cinzas erguia-se então uma nova fénix, que colocava piedosamente os restos da sua progenitora num ovo de mirra e voava com eles à cidade egípicia de Heliópolis , onde os colocava no Altar do Sol. Dizia-se que estas cinzas tinham o poder de ressuscitar um morto.
A lenda foi escrita pelos sacerdotes do Sol de Heliópolis como uma alegoria da morte e renascimento diários do sol.
Em todas as mitologias, o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição e a esperança que nunca tem fim.
* Para os gregos, a fénix estava ligada ao deus Hermes e é representada em muitos templos antigos. Há um paralelo da fénix com o Sol, que morre todos os dias no horizonte para renascer no dia seguinte, tornando-se o eterno símbolo da morte e do renascimento da natureza.
*Os egípcios a tinham relacionada a estrela "Sótis", ou estrela de cinco pontas, estrela flamejante, que é pintada ao seu lado.
* Na China antiga, a fénix foi representada como uma ave maravilhosa e transformada em símbolo da felicidade, virtude, força, liberdade e inteligência. Na sua plumagem, brilham as cinco cores sagradas...Roxo, Azul, Vermelha, Branco e Dourado.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Saber amar é…

Saber amar é esperar
não da vontade do outro
mas de saber-se o momento
não do momento oportuno
mas sim do tempo
pois que para quem sabe amar
a paciência é parte
impaciência a parte…
saber amar é ensinar e aprender
sem mesmo o saber fazer
pois que não impõe-se
apenas se deixa ser
quem sabe amar tem estilo
não prepotente
seu estilo de jeito de saber se dar…
saber amar é estar sintonizado
não preocupado pois que é tão espontâneo
que quem sabe amar sempre sabe
o que o outro até mesmo quer dar…
saber amar é estar sempre atento
àquilo que nunca é dito
mas expressado em gestos
e há sempre de reconhecer
é claro que compreende tudo
e se não aceita todas as desculpas
há de com jeito fazê-las explicar
talvez um pouco de renúncia
pois que mais adiante ela se desfaz
existe um tom de amizade sempre a todo momento
na pessoa que sabe amar
não se aprende por experiência
de amor em amor
quem sabe amar tem o dom
apenas o flui tranqüilo
quando encontra aquele que sabe
entender como receber esse amor
quem sabe amar entende que
vai se fazer falta
sente-se triste por provocar essa dor
mas isso faz parte do amor
apenas de quem sabe amar…

Você

Em cada estante um livro
Em cada livro um porquê
Em cada por quê uma resposta
Em cada resposta VOCÊ

Em cada noite um sonho
Em cada sonho um desejo
Em cada desejo uma saudade
Em cada saudade VOCÊ

Em cada mês uma semana
Em cada semana um dia
Em cada dia uma lembrança
Em cada lembrança VOCÊ

Em cada pessoa um amigo
Em cada amigo uma conversa
Em cada conversa um assunto
Em cada assunto VOCÊ

Em duas bocas um beijo
Em cada beijo um sentimento
Em cada sentimento um amor
Em cada amor VOCÊ

Em cada boca uma palavra
Em cada palavra uma certeza
Certeza que amo... VOCÊ!

O amor, quando se revela...

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

(Fernando Pessoa)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Alegria de viver

E muitos perguntam

Diante da dor, que parece insuportável, muitos perguntam como irão prosseguir?

E o Pai responde que a fé é a luz que irá cicatrizar todas as feridas e nos mostrar um novo caminho.

Diante do desafio que destrói muitos sonhos, muitos perguntam como resistir à tentação de abandonar a jornada?

E o Pai responde que a prece é o remédio que sempre renova nossas forças nos momentos de maior provação.

Diante da tristeza, muito perguntam como reencontrar o prazer de viver?

E o Pai responde que a alegria é uma semente que está dentro de cada um de nós e só quando cuidarmos do nosso terreno íntimo, ela poderá germinar.

Diante da queda, muitos perguntam como irão se reerguer e continuar?

E o Pai responde que a perseverança e a confiança são as ferramentas que nos ajudarão a atravessar qualquer tempestade.

Diante dos espinhos, muitos perguntam como suportar o sofrimento?
E o Pai responde que o mesmo espinho que hoje nos fere, amanhã será a flor a perfumar nossa vida.

Diante do erro, muitos perguntam como não se entregar ao desespero?

E o Pai responde que somos Espíritos eternos, em constante evolução e que a cada dia progredimos rumo ao Alto e com fé, lá chegaremos, independente dos desatinos já cometidos.

Diante da perda, muitos perguntam como não temer a morte?

E o Pai responde que a morte é apenas a porta para um novo caminho, que o fim não existe e sim a chance de um novo recomeço.

Por isso, sigamos nosso caminho, vencendo nossos melindres, perseverantes em nossa reforma íntima, acreditando em nós e na Providência Divina e continuando a perguntar, porque o Pai jamais nos deixará sem resposta...

 


[Sônia Carvalho]


Autora do livro "E a vida se renova"

Reencontrar [primeira essência]


Quando eu olho pra você
Um filme começa rodar
Uma época que não esqueci
Que agente tinha o prazer de sonhar renovar
O tempo afastou a razão
Te fiz viver em solidão
Na busca de ser feliz
Já não mais achou direção
Deixou o amor, buscou as paixões
Mais Deus tem algo pra lhe dizer
Eu não me esqueci de Ti
Suas lágrimas colhi e ouvi o teu clamor
Minhas promessas estão aqui
Descanse em mim, minha paz reinará em você
Reencontrar o amor
Reencontrar o prazer de viver

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Em um quarto escuro

Em um quarto escuro
Além do alcance da fé de Deus
Jazem os feridos, os restos despedaçados do amor traído
E a inocência de uma criança é comprada e vendida
Em nome dos amaldiçoados
A ira dos anjos deixou silêncio e frio
Perdoe-me, por favor, pois eu não sei o que faço
Perdoe-me, por favor, pois eu não sei o que digo
Como posso guardar uma mágoa que eu sei, é verdadeira?
Me diga quando o beijo do amor vira uma mentira
Que possui uma cicatriz do pecado profunda demais
Para que assim eu possa esconder este medo de correr até você
Por favor, Deixe que haja luz
Em um quarto escuro
E todos momentos preciosos colocados de lado novamente
E o sorriso da alvorada
Traz uma luxuria corrompida Cantando meu Réquiem
Eu posso encarar o dia quando sou torturado em minha crença
E assistir isso cristalizando
Enquanto minha salvação vira pó?
Por que não posso guiar o navio antes dele encontrar uma tempestade?
Eu não caio no mar, mas mesmo assim ainda estou nadando para uma margem

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Somos os respingos de dor
Que alcançam as folhas mais belas
Somos o pouco que sobrou do amor
Querendo as flores mais velhas
Somos o mundo que gira
Tentando esconder as guerras
Entre rostos aflitos e desespero
O mundo não muda o mundo
O tudo que nos resta está fraco
As flores, velhas flores
As folhas, belas folhas
Encontros e desencontros
Tudo se relaciona como um mapa
Mostrando os caminhos entre partidas
Chegadas em horas certas
Já cansamos de sofrer dores repetidas
Apenas deixe se levar pelas incertezas
Que nos mostra a escuridão
Agarrada a um mundo de clarezas
De um povo em meio um rio de perdão

 

[Renato Nadal]

Vou lembrar de tudo o que eu fiz
De todas as lágrimas que eu chorei
Tudo que eu vivi, e venci.
De todos os momentos em que te quis
Os lugares em que eu errei
Os acertos que não fazem diferença
As palavras que se esconderam de mim
Os começos em que nada valia
E tudo que se perdeu em todo o fim
Vou lembrar das coisas em que me meti
Dos palavrões que disse
Das zoeiras que fiz entre amigos
Viagens doidas, saindo tarde e voltando cedo.
As noites que se colocaram no escuro, o medo.
As poesias em vão que ninguém leu
As águas em que eu mergulhei
As coisas que na minha frente e ainda se perdeu.
As coisas sem sentido que eu escrevi
Dos gritos, no meio da noite, querendo silêncio.
Dos namoros, das namoradas.
Dos momentos que se passa de um jeito
Das ligações não atendidas,
De tudo que não falei
“E do tudo que eu falei”
Lembrarei dos jogos de futebol
A galera reunida pra torcer
Os shows, que todos acham loucura.
Vou lembrar de tudo, de tudo.
Então vou fazer muito mais.
Para ter mais coisas para lembrar no futuro
Poder rir, ou chorar.
Pegar o telefone e ouvir as vozes
Falar oi, e ficar com medo de falar tchau.
Pois não sei se mais ligarei.
Se amanhã vocês vão estar aí
Ou se vão se juntar às minhas saudades
Que em tom de lembranças
Tudo fica mais leve, menos dolorido.
Vou ter muitos dias pela frente
E quando eu chegar ao fim, não direi que fui vencido.
Vivi, a vida não me destruiu.
Vivi a vida, e agora vivo de lembranças.
Mas não deixo a saudade me consumir.
E nem tudo virar ilusão…

 

[Renato Nadal]

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Amor…

Primeira Epístola do Apóstolo Paulo aos Coríntios (13)

Acima de tudo o amor. Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, eu não seria nada.

Ainda que eu distribuisse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo as chamas ,se não tivesse amor nada disso me adiantaria

O amor é paciente. O amor é prestativo, não é invejoso, não se ostenta. Não incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, mas se regojiza com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê,tudo espera,tudo suporta.

O amor jamais passará, as profecias desaparecerão, as linguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado, limitada também é a nossa profecia.

Agora portanto,permanecem estas tres coisas: a fé , a esperança e o amor.A maior delas ,porém é o amor.

Mas quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança.

Agora vemos como um espelho e de maneira confusa, mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido.

Agora portanto, permanecem estas tres coisas: a fé , a esperança e o amor. A maior delas, porém é o amor.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Passei toda a noite

Passei toda a noite, sem dormir,

vendo, sem espaço, a figura dela,

E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.

Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,

E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.

Amar é pensar.

E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.

Não sei bem o que quero,

mesmo dela,

e eu não penso senão nela.

Tenho uma grande distração animada.

Quando desejo encontrá-la

Quase que prefiro não a encontrar,

Para não ter que a deixar depois.

Não sei bem o que quero,

nem quero saber o que quero.

Quero só Pensar nela.

Não peço nada a ninguém,

nem a ela,

senão pensar.

 

[Fernando Pessoa]

Despedida…

Amor, para ti, meu coração

Arrancado do meu peito

Estou despedaçada

E se eu pudesse

Enterraria os meus dedos

No meu peito,

Arrancaria o meu coração

E dava-o a ti.

Uma massa pulsante

De uma mórbida patologia.

Além do meu coração,

Existem alguns pequenos órgãos que gostaria de lhe dar:

Glândulas, pâncreas, carnes variadas.

Ofereço-te estes presentes

Presentes raros!

Sei que eles não são grande coisa em comparação

Com o que já me deste.

Eu ouvi que estes órgãos não sobrevivem fora do corpo

Por mais que algumas horas,

Mas tentarei chegar aí o mais rápido possível.

Não importa o que aconteça

Será por minha conta,

No meu coração.

 

[J. – TLW 1T6]