domingo, 28 de setembro de 2008

Eu não sei na verdade quem eu sou [Teatro Mágico]

"Eu não sei na verdade quem eu sou
já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito?
criando conceito pra tudo que restou
Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro
Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
E sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou
Perguntar... da onde veio a vida
por onde entrei... deve haver uma saída
e tudo fica sustentado... pela fé
Na verdade ninguém... sabe o que é
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
com água e farinha colo figurinha e foto em documento
Escola! É onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração
Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
E sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou
Perceber que a cada minuto
tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
tem gente trepando no escuro, tem gente sentido ausência
Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro
Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou
Mas eu não sei na verdade quem eu sou..."


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sábado, 27 de setembro de 2008

Para você que nunca me encontrou

Sinto saudades do dia em que nunca nos encontramos.
Sim, daquele em que não nos vimos pela primeira vez.
Desse em que nunca te tive.
Daquele em que não falaste o que eu queria ouvir.
De nossa primeira noite que jamais houve,
quando deixamos de conhecer-nos biblicamente até o desmaio.
Tenho sede da noite em que nem começamos a beber-nos.
Sinto fome dos momentos em que não estavamos um no outro,
devorando-nos gota a gota.
Poderia desenhar com os mínimos detalhes tudo o que não aconteceu.
O amor que não explodiu,
o desejo que não cristalizou,
todo esse nada que não vivemos tão intensamente separados.
É uma saudade tão grande!
...Uma saudade como se nunca tivesse acontecido.
Como este carinho e amor que te mando,
.... ainda assim ainda nunca encontrei.

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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Durma, medo meu [Teatro Mágico]

Todo o chão se abre
No escuro, se acostuma
Às vezes a coragem é como quando a nova lua
Somos a discórdia
E o perdão
E nos esquecemos da cor que tinha o céu, assim
Como a saudade
Ou uma frase perdida
Durma, Medo Meu
Durma, Medo Meu
Hmmm, não
Às vezes um "não sei"
Janela, madrugada, luz tardia
E o medo nos acorda
Pára e bate o coração
Em pura disritmia
O medo amedronta o medo
Vela, madrugada, dia, assim
Como a saudade
Ou uma frase perdida
Durma, Medo Meu
Durma, Medo Meu

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Há momentos....



Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.
Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.

[Clarice Lispector]

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Eu preciso falar-te de Amor

Eu preciso falar-te de Amor
Não encontro um jeito
Arrancar essa dor que incomoda
Dentro do meu peito.
Beijar os teus lábios
Sentir doce mel do teu beijo
Deitar em teu colo
Encontrar essa paz que eu desejo.
Preciso te olhar em teus olhos
Dizer o que sinto
Essa paixão que sufoca
Coração faminto.
Levar-te para a cama
Deixar no lençol o teu cheiro
Colar o meu corpo em teu corpo
E matar meu desejo.
Preciso desse amor
Como da água para viver
Estou no deserto, faz calor
No teu corpo vou beber
Matar a minha sede
Matar esse desejo
Dar asas à ilusão
E no teu corpo me perder.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Insônia



Alma de cristal velando angústias de metal.
Sonhos de papel embrulhando o ódio sem quartel.
Lembranças de coral gerando dores sem moral.
Essa é a luta-a disputa-a labuta-a contenda entre o ser e o seu destino,
entre o Amor e o seu verdugo,
entre a noite e a sua insônia.
Boas intenções... duras traições... fundas ilusões...
só desilusões, trazendo a raiva e roendo o grito e
lambendo o verso que esculpe sem rima essa-espera essa-entrega,
essa angústia que sem trégua aperta fundo
e mansamente inunda com calado pranto
as olheiras trasnoitadas carregadas de partidas sem retorno,
de ausências sem motivo, de olhares carentes,
clementes, silentes, dementes.
Assim fabrica a noite o seu discurso
até que o sono se rebele e diga basta!
... impondo mansamente a calma,
anestesiando docemente a angústia,
inaugurando finalmente o sono.

[Bruno Kampel]

domingo, 21 de setembro de 2008

Hoje sou o mundo e o nada

Hoje sou como o Mundo,
Num dia cinzento de Inverno
Um dia tão longo e triste: Dia de mágoa, eterno!
Sou nuvem que vagueia,
Pelos céus inalcansáveis: Perdido, só...
Voo ao sabor do vento;
Sou nuvem, nuvem sem uso: A água que tinha já se foi,
Sou nuvem, incapaz de fazer CHOVER,
Exprimida, incapacitada,
Nuvem sem utilidade;
Nuvem perdida e esquecida!
Hoje sou os campos inundados,
Que se afogam com o elixir da vida,
Que se desfazem com a água corrente,
Que se dEstroiem com o ventos!
Hoje sou o Sol que já não brilha,
Estrela sem brilho, sem energia!
Hoje sou o mar revoltado que todos temem,
Um mar sem alma e sem amor,
Mar esquecido, perdido.
Hoje sou tudo o que a alma entristece,
Sou mar sem sal,
Exprimida, incapacitada,
Céu sem estrelas!
Hoje sou tudo...?
Não, sou simplesmente alguém
Que voou, que foi tudo...
Hoje sou o mundo,
Um mundo que já não existe: Hoje não sou absolutamente nada....


[David Serrano Sobral ]


Inspiração

Que és tu, luz que vem de dentro?
Quem és tu, sonho reticente?
De onde vens, inspiração divina?
Sinto-te...
Sei que me invades...
Percorres-me...
Sei que o fazes...
Mas porquê?
Porque me fazes ser e não ser?
Para que me fazes querer,
Para depois tudo perder?
Porque me fazes escrever,
Porque me fazes desenvolver...
Se não sou mais que os outros;
Também acabarei por morrer!
Porque é que nunca tens hora,
Nem momento, nem altura...?
Vens sempre sem avisar...
Vens minha alma abraçar,
Meu coração acariciar...
Mas o que és senão sonho e ilusão?
Que és senão tudo o que sempre quis?
Que és, senão tudo o que nunca terei...?

[David Sobral Serrano ]

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ela, Dela, Nela

O dedo na chaga.
Disso careço.
Da que o ponha e aperte insistindo.
Da que diga silêncios falados.
Da que afague as carências
e declame veemências.
Dessa que sem olhar
receite o meu remédio.
Dela careço.
De estar nela, como sela.
Como dela estar em mim,
ser minha pele.
Dela preciso,
da dona dos meus gritos
e escrava dos meus ritos,
o do tocar aflito,
o de somar as gotas do tempo
que orvalham a esperança,
como o vento.
Enquanto espero,
apenas quero que seja vero.
Que nela,
que nessa,
faleça de amor - em seus ais - a minha espera.

[Bruno Kampel]

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Corpo a Corpo

Suas pernas abraçaram-se
ao vaivém do meu balanço,
e o meu suor batizou a pele
de seus seios.
Minha língua rebolou ao ritmo
de seus gemidos,
e sua lascívia acariciou a rígida
prontidão do meu desejo.
A galope das horas que olhavam
de soslaio o nosso encontro,
nos demos sem palavras,
nos tivemos sem fronteiras,
prometemos e juramos,
penetramos e saimos,
procuramos e encontramos,
e inflamados explodimos.
Desde os bastidores do nirvana,
o amanhecer deixou cair o pano
sobre nossos corpos exaustos,
enquanto os minutos que passavam
aplaudiam o apagar das luzes
da nossa noite de amor.

[Bruno Kampel]

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A procura

Amanheci abrindo a porta do mistério
no qual guardo a vida enquanto durmo
procurando nele o meu sorriso matutino
meu olhar mais sereno e deslumbrante
minha intenção mais genuína e solidária
e também minha alegria renascida
mas por mais que buscasse nas gavetas
e nos restos da noite que findara
nada achei pendurado nos cabides
a não ser a lembrança de outros tempos
e atônito ante a ausência de mim mesmo
sentindo-me num beco sem saída
apertei o gatilho da esperança
e correndo até o espelho da memória
joguei nele a minha sombra amarrotada
e lá estou esperando-me sentado
até a hora que voltar não sei de onde.

[Bruno Kampel]


segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Há anos

Há anos que me espero inutilmente.
Se não chegar antes do próximo poema,
sairei a procurar-me entre as rugas do passado,
e se não me achar nos escombros de outros tempos,
ou se me perder nas cinzas dos meus sonhos,
então voltarei e continuarei esperando-me,
sentado sobre as estrofes do tempo que
não espera nem perdoa.


[Bruno Kampel]

domingo, 14 de setembro de 2008

Mulher

Não quero uma mulher
Que seja gorda ou magra
Ou alta ou baixa
Ou isto e aquilo.
Não quero uma mulher
Mas sim um porto, uma esquina
Onde virar a vida e olhá-la
De dentro para fora.
Não espero uma mulher
Mas um barco que me navegue
Uma tempestade que me aflija
Uma sensualidade que me altere
Uma serenidade que me nine.


Não sonho uma mulher
Mas um grito de prazer
Saindo da boca pendurada
No rosto emoldurado
No corpo que se apoie
Nas pernas que me abracem.
Não sonho nem espero
Nem quero uma mulher
Mas exijo aos meus devaneios
Que encontrem a única
Que quero
sonho e espero
Não uma, mas ela.
E sei onde se esconde
E conheço-lhe as senhas
Que a definem.
O sexo Ardente, a volúpia estridente
A carência do espasmo
O Amor com o dedo no gatilho.

Só quero essa mulher
Com todos seus desertos
Onde descansar a minha pele exausta
e a minha boca sedenta
E a minha vontade faminta
E a minha urgência aflita
E a minha lágrima austera
E a minha ternura eloquente.

Sim, essa mulher que me excite
Os vinte e nove sentidos
A única a saber
O que dizer
Como fazer
Quando parar
Onde Esperar.
Essa a mulher que espero
E não espero
Que quero e não quero
Essa mulherportoesquina
Que desejo e não desejo
Que outro a tenha.

Que seja alta ou baixa
Isto ou aquilo
Mas que seja ela
Aquela que seja minha
E eu seja dela
Que seja eu e ela
Euela eu lá nela
Que sejamos ela.
E eu então terei encontrado

A mulher que não procuro
O barco, a esquina, Você.
Sim, você, que espreita
Do outro lado da esquina, no cais,
A chegada do marinheiro
Como quem apenas me espera.
Então nos amarraremos sem vergonha
À luz dos holofotes dos teus olhos,
E procriaremos gritos e gemidos
Que iluminarão todas as esquinas.


Será o momento de dizer
Achei/achamos amei/amamos
E por primeira vez vocalizar o Somos,
pluralizando-nos
Na emoção do encontro.
Essa a mulher que não procuro nem espero.
Você, viu? Você!

[Bruno Kampel]




sábado, 13 de setembro de 2008

Tuas mãos


Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?

Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.

A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.

[Pablo Neruda]

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O teu riso


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

[Pablo Neruda]

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O Poço


Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

[Pablo Neruda]


quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A beleza e o amor



A beleza com o tempo;
Acaba.
Como o vento;
Passa.
E não volta mais!

O verdadeiro amor com o tempo;
Aumenta.
Como o fogo;
Esquenta.
E não há vento
Que impeça seu crescer!

A beleza;
Para falar a verdade
É um estado de espirito;
Depende da maneira
Que olhamos para ela,
Do modo como a valorizamos,
Dos olhos de quem a vê!

Mas,quando olhamos com os olhos do coração,
Passamos a enxergar a verdadeira beleza,
a que realmente importa, a que vai pesar na
manutenção de nossos relacionamentos.

Nem sempre...
A beleza é garantia de felicidade;
Pois o belo pode se transformar em fera
e é ai que vemos nossos príncipes e princesas,
destruindo nossos sonhos.

Não procure beleza,
Não procure formosura,
Não procure perfeição estética.
Procure amar as pessoas pelo que elas são
E não pela beleza que elas possam ter.

Um rostinho bonito;
um corpinho malhado,
Nada disso importa;
Quando se ama de verdade.

A beleza passa...
A formosura passa...
Os anos passam...
O tempo passa...
Mas o amor, o verdadeiro amor, permanece!!!


terça-feira, 9 de setembro de 2008

O que importa é o hoje

Vivo a paixão que me consome,
Sem medo, dor ou tristeza,
Com a razão de ouvir teu nome,
Com a certeza de amá-lo na maior pureza.

Pois um amor assim nunca se encontra
Dentro da eternidade e a cada instante,
Com toda graça me encanta,
Um doce e calmo amor prestante.

Ao contentamento de espalhar meu canto,
De tudo oferecerei em vãos momentos,
Quero vivê-lo e senti-lo tanto,
Que dele se encante até mais meu pensamento.

E de senti-lo tanto assim e simplesmente,
Com tanta certeza e liberdade,
Que o tenho em meu peito permanente
Presente na memória e saudade.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Quando você não está...


Este tormento,
esta sede de te amar
Que na alma se encrava em noites nuas
E me mata de prazer,
se devagar
Ledo e terno em meu corpo deságuas
Esta ânsia de te querer,
como te quero
Esta dor violenta e súbita no coração
Que me persegue e devora se te espero
Que me anima e apazigua à tua mão
Esta febre que me aviva a poesia
E que é chama em constante exaltação
E, quando chegas, doce vertigem, euforia
E quando partes, travo amargo a solidão!


quinta-feira, 4 de setembro de 2008

John Keats (1795-1821)

[Obs.: Aqui, mais uma carta de amor que chega através dos séculos. 
John Keats é um dos meus poetas favoritos!: Yhanne Carla]


Março 1820
(Itália)
Adorável Fanny,
Você teme, algumas vezes, que eu não a ame tanto quanto você deseja? Minha querida menina, eu a amo sempre e sem reserva. Quanto mais eu a conheci mais eu a amei. De toda forma — mesmo meus ciúmes tem sido agonias do Amor, no mais forte acesso que eu jamais tive eu teria morrido por você. Eu a tenho irritado muito, mas por Amor! Que posso fazer? Você está sempre nova para mim. O último de seus beijos foi sempre o mais doce, o último sorriso o mais brilhante, o último movimento o mais gracioso. Quando você passou na janela de minha casa ontem eu me enchi de tanta admiração como se eu a tivesse visto pela primeira vez.
Você proferiu uma queixa, uma vez, que somente amei sua Beleza. Não tenho mais nada a amar em você que isto? Não vejo um coração naturalmente provido de asas emprisionado comigo? Nenhuma expectativa de doença foi capaz de mover meus pensamentos em você para longe de mim. Isto talvez seja tanto um assunto de tristeza como alegria — mas eu não falarei sobre isso. Mesmo se você não me amasse eu não poderia evitar uma completa devoção a você: imagine quanto mais profundo deve ser meu amor, sabendo que você me ama. Minha mente tem sido a mais descontente e impaciente que alguém jamais colocou num corpo, que é muito pequeno para ela. Eu nunca senti minha mente repousar sobre nada com felicidade completa e sem distração, da maneira que repousa em você.
Quando você esta no quarto, meus pensamentos nunca voam para fora da janela: você sempre concentra todos os meus sentidos inteiramente. A ansiedade mostrada acerca de nosso Amor em sua última carta é um imenso prazer para mim; entretanto você não deve sofrer tais especulações que a molestem: nem posso eu acreditar que você tenha o menor ressentimento contra mim. Brown partiu - mas aqui está Mrs. Wylie. Quando ela se for eu estarei acordado para você.

Lembranças à sua mãe
Seu apaixonado
J Keats




[Carta endereçada a Fany Brawne, vizinha de Keats
pela qual ele se apaixonou, não podendo porém se casar,
pois, os médicos já tinham diagnosticado a tuberculose,
doença que mataria o poeta inglês um ano depois ]



LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

Manhã de 6 de julho

Meu anjo, meu tudo, meu eu...
Por que esta profunda tristeza quando é a necessidade quem fala?
Pode consistir nosso amor em outra coisa que em sacrifícios,
em exigências de tudo e nada? Esqueceu de que você não é
inteiramente minha e de que eu não sou inteiramente seu? Oh, Deus!

Contempla a maravilhosa natureza e tranqüiliza seu ânimo na certeza
do inevitável. O amor exige tudo e com pleno direito: eu para com você
e você para comigo. No entanto, duvida tão facilmente que eu tenho
que viver para mim e para você. Se estivéssemos completamente unidos,
nem você nem eu estaríamos nos sentindo tão desolados.
Minha viagem foi horrível...

Alegre-se, você é o meu mais fiel e único tesouro,
meu tudo como eu para você.
No mais, que aconteça o que tenha que acontecer e deva acontecer;
os deuses saberão o que fazer...

Tarde de segunda-feira. Você sofre.
Ah! onde estou, também ali está você comigo.
Tudo farei para que possamos viver um ao lado do outro.
Que vida!!! Assim!!! Sem você... perseguido pela bondade de
algumas pessoas, que não quero receber porque não as mereço.
Me dói a humildade do homem diante do homem.
E quando me acho em sintonia com o Universo, o que sou e quem
é aquele a quem chamam o Todo Poderoso?
E sem dúvida... aí então aparece de novo o divino do homem.
Choro ao pensar que provavelmente não receberá minha primeira
carta antes de sábado. Tanto como você me ama, muito mais a amo!...
Boa noite! Devo ir dormir.
Oh, Deus! Tão perto! Tão longe!
Não é nosso amor uma verdadeira morada do céu?
E tão sólido como as muralhas do céu?!
7 de julho

Bom dia! Todavia, na cama se multiplicam meus pensamentos em você,
minha amada imortal; tão alegres como tristes, esperando ver se o destino
quer ouvir-nos. Viver sozinho me é possível, ou inteiramente com você,
ou completamente sem você. Quero ir bem longe até que possa voar para
os seus braços e sentir-me num lugar que seja só nosso, podendo enviar
minha alma ao reino dos espíritos envolta em você. Você concordará comigo,
tanto mais conhecendo minha fidelidade, e que nunca nenhuma outra possuirá
meu coração; nunca, nunca...

Oh, Deus! Por que viver separados, quando se ama assim? Minha vida, o mesmo
aqui que em Viena: sentindo-me só, angustiado. Você, amor, me tem feito
ao mesmo tempo o ser mais feliz e o mais infeliz. Há muito tempo de que
preciso de uma certeza em minha vida. Não seria uma definição quanto ao
nosso relacionamento?... Anjo, acabo de saber que o correio sai todos os dias.
E isso me faz pensar que você receberá a carta em seguida.

Fique tranqüila. Contemplando com confiança nossa vida alcançaremos
nosso objetivo de vivermos juntos. Fique tranqüila, queira-me. Hoje e sempre,
quanta ansiedade e quantas lágrimas pensando em você... em você...
em você, minha vida... meu tudo! Adeus... queira-me sempre! Não duvide
jamais do fiel coração de seu enamorado Ludwig. Eternamente seu,
eternamente minha, eternamente nossos
.
[Dois trechos de uma carta de amor de Beethoven,
encontrada após sua morte, a uma mulher que ele
chamava “Minha Amada Imortal”]



quarta-feira, 3 de setembro de 2008



O que há entre ela e mim?

A busca incessante, a caça
Não saciar a "fome"
O prazer da procura
Da loucura
Do perigo iminente
Matar ou morrer

Felina, agressiva
Força na luta hostil
Na incerteza de vencer
Sabiamente recuar
Nunca fugir...

Altiva, feroz
Quando violentada, desafiada
Usa a malícia, a audácia
A perspicácia
Fere com suas garras cortantes
Matar ou morrer

Correr nos campos
Sentindo o cheiro da liberdade
Ritmo cadenciado
Com graça e beleza
Leveza de bailarina
Nobre rainha

Pantera misteriosa
Mansa menina
O suave toque do amor
Desarma a selvagem felina

Como mãe, doce ternura
Matrona imperiosa
Luta pra dar
Àqueles que não sabem lutar

Sensível fêmea-mulher
No aconchego do afago, do amasso...
Sonha com o mar, as estrelas, o luar
Doce menina
Sábia mulher.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Insaciáveis



Nossa, menina...!
Que mulher insaciável.
O seu desejo de amor,
é simplesmente notável !

Mal começo a respirar,
lenta, pausadamente,
lá vem você, sorrateira,
mão saliente, tão quente,
me procurando de novo...

- Espera , lhe digo eu -
segurando sua mão...
Deixa eu recuperar,
a minha respiração !

Afinal, são tantas horas,
que estamos aqui bem juntinhos...
Fazendo amor, sem parar,
trocando muitos carinhos .

E ela se conformando,
com força me abraçando,
também mostra seu cansaço,
em pouco está dormitando.

O tempo que passa é pouco,
pois colado àquele corpo,
sentindo forte atração,
eu me jogo sobre ela...

Que abre seus olhos, sorrindo,
mostrando sua emoção,
suas pernas vão-se abrindo,
e novamente se acende
o fogo da nossa paixão...!

Nossa, como nós somos,
dois seres insaciáveis !

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Corpo adentro


Teu corpo é canoa
em que desço
vida abaixo
morte acima
procurando o naufrágio
me entregando à deriva.

Teu corpo é casulo
de infinitas sedas
onde fio
me afio e enfio
invasor recebido
com licores.

Teu corpo é pele
exata para o meu
pena de garça
brilho de romã
aurora boreal
do longo inverno.
[Marina Colassanti]