quinta-feira, 4 de setembro de 2008

LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

Manhã de 6 de julho

Meu anjo, meu tudo, meu eu...
Por que esta profunda tristeza quando é a necessidade quem fala?
Pode consistir nosso amor em outra coisa que em sacrifícios,
em exigências de tudo e nada? Esqueceu de que você não é
inteiramente minha e de que eu não sou inteiramente seu? Oh, Deus!

Contempla a maravilhosa natureza e tranqüiliza seu ânimo na certeza
do inevitável. O amor exige tudo e com pleno direito: eu para com você
e você para comigo. No entanto, duvida tão facilmente que eu tenho
que viver para mim e para você. Se estivéssemos completamente unidos,
nem você nem eu estaríamos nos sentindo tão desolados.
Minha viagem foi horrível...

Alegre-se, você é o meu mais fiel e único tesouro,
meu tudo como eu para você.
No mais, que aconteça o que tenha que acontecer e deva acontecer;
os deuses saberão o que fazer...

Tarde de segunda-feira. Você sofre.
Ah! onde estou, também ali está você comigo.
Tudo farei para que possamos viver um ao lado do outro.
Que vida!!! Assim!!! Sem você... perseguido pela bondade de
algumas pessoas, que não quero receber porque não as mereço.
Me dói a humildade do homem diante do homem.
E quando me acho em sintonia com o Universo, o que sou e quem
é aquele a quem chamam o Todo Poderoso?
E sem dúvida... aí então aparece de novo o divino do homem.
Choro ao pensar que provavelmente não receberá minha primeira
carta antes de sábado. Tanto como você me ama, muito mais a amo!...
Boa noite! Devo ir dormir.
Oh, Deus! Tão perto! Tão longe!
Não é nosso amor uma verdadeira morada do céu?
E tão sólido como as muralhas do céu?!
7 de julho

Bom dia! Todavia, na cama se multiplicam meus pensamentos em você,
minha amada imortal; tão alegres como tristes, esperando ver se o destino
quer ouvir-nos. Viver sozinho me é possível, ou inteiramente com você,
ou completamente sem você. Quero ir bem longe até que possa voar para
os seus braços e sentir-me num lugar que seja só nosso, podendo enviar
minha alma ao reino dos espíritos envolta em você. Você concordará comigo,
tanto mais conhecendo minha fidelidade, e que nunca nenhuma outra possuirá
meu coração; nunca, nunca...

Oh, Deus! Por que viver separados, quando se ama assim? Minha vida, o mesmo
aqui que em Viena: sentindo-me só, angustiado. Você, amor, me tem feito
ao mesmo tempo o ser mais feliz e o mais infeliz. Há muito tempo de que
preciso de uma certeza em minha vida. Não seria uma definição quanto ao
nosso relacionamento?... Anjo, acabo de saber que o correio sai todos os dias.
E isso me faz pensar que você receberá a carta em seguida.

Fique tranqüila. Contemplando com confiança nossa vida alcançaremos
nosso objetivo de vivermos juntos. Fique tranqüila, queira-me. Hoje e sempre,
quanta ansiedade e quantas lágrimas pensando em você... em você...
em você, minha vida... meu tudo! Adeus... queira-me sempre! Não duvide
jamais do fiel coração de seu enamorado Ludwig. Eternamente seu,
eternamente minha, eternamente nossos
.
[Dois trechos de uma carta de amor de Beethoven,
encontrada após sua morte, a uma mulher que ele
chamava “Minha Amada Imortal”]