Sempre soube terminar os poemas       
que falam de saudade, de amores        
finitos, mas nunca começá-los,        
pois o início  tem gosto de ausência,        
tem cheiro de perda, tem peso de outrora.
Amores passados, perdidos, partidos,       
apenas convidam ao silêncio,        
e a confissão, e a solidão, florescem        
implacáveis na ponta da língua,        
como brados, como adagas,        
e então, ao pretender o afago,        
apenas desenho um lamento profundo,        
e ao tentar esquecer o inesquecível        
implanto as lembranças na retina da memória,        
que dói como se fosse o dia da partida        
e não a hora das reminiscências.
Mas, sim: aprendi a dizer       
que não te esqueço; que o eco dos teus pés        
- que já foram o meu chão - retumba        
a cada passo que caminho        
nesta doce amargura escandinava,        
escondido entre loiríssimos cabelos        
e branquíssimas mentiras.
Revejo os instantes       
e vejo que o tempo, a destempo,        
ensina a dizer que te amo,        
que te lembro quando é tarde,        
quando a noite do tempo deitou-se        
para sempre entre nós, como  água        
sem barco, como  margens sem rio        
como um dia sem horas.
Difícil começar a dizer       
da saudade que sofro,        
da angústia que vivo,        
da dor que me ataca,        
da culpa que sinto,        
que não é vã, mas justa:        
mea culpa, mea máxima culpa.
E os minutos, esses que teimam       
em ficar horas a lembrar-te;        
e as horas, que ficam dias teimando        
em reviver os instantes que não voltam,        
apenas desamarram as palavras        
que impunes e sem medo        
se escrevem letra a letra        
lapidando um pedido de socorro,        
rabiscando um retorno ao passado,        
esculpindo um desejo de futuro,        
conquistando uma chance de ventura.
Sim, não nego:       
quis construir uma ponte de amor,        
um dizer de saudade,        
um grito de esperança,        
um pedido de clemência.
Nem mais, nem menos,       
nem muito ou pouco,        
nem tarde ou nunca:        
um tudo ou nada.
Sim,       
um poema de amor        
manchado de saudade,        
pintado em cor remorso,        
é o que tento iniciar        
e não consigo,        
pois dizendo que sim,        
que te amo        
e não te esqueço,        
não começo, mas termino.
E isso faço, começo terminando       
com um resto de esperança,        
que é o fim de todos os princípios,        
e repito, como um disco,        
que te amo, que te amo,        
e que deixar-te foi tão duro        
como te saber distante.
E termino começando,       
pronunciando o teu nome,        
o que até agora apenas me atrevia:        
vivendo de amor, e não morrendo,        
suando de ternura e não de angústia        
gritando de esperança e não de raiva,        
é como digo que te amo,        
meu Brasil nunca esquecido.
   
[Bruno Kampel]
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