quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Dia em que o Sol Encontrou-se com a Lua

Conta-se, que há muito o Sol andava tristonho pela Terra. 
Seus raios, já não eram tão " fortes " como antes
e por mais que o fizesse, sempre era encoberto por alguma nuvem escura
que percorria o céu num forte vendaval.
Os pássaros, as flores, os animais,
todos se questionavam sobre o distanciamento do sol.
Numa manhã; que seria bem mais bonita, se o Sol estivesse com seu esplendor total;
uma ave de vôo inigualável chamada Condor, arriscou-se e quis tentar conversar com o astro rei.
O sol percebendo a dificuldade do Condor para se aproximar, tranquilizou-o dizendo:
- Linda ave; de vôo quase perfeito,  porque queres chegar a mim, se estou por toda parte deste planeta?
O Condor ouvindo a pergunta do Sol lhe respondeu, já exausto pelo vôo:
- Gostaria muito de saber o que lhe deixa tristonho. O planeta está quase sem tua luz, os pássaros já não sabem mais para onde ir; as flores, principalmente o girassol; já não sabe mais se fica acordado ou se dorme; os animais já não sabem mais se ficam em suas tocas ou saem para caçar; as lavouras estão se perdendo... Tudo está tão confuso, que resolvi arriscar este vôo e lhe perguntar qual seria o problema.

O Sol percebendo a preocupação do Condor disse-lhe:
- Não sabia que estava causando tantos transtornos! Confesso que me absorvi em meus pensamentos,
que não me dei conta do que estava fazendo.
Posso tentar solucionar isto tudo; prometo tentar...
O Condor percebendo a " dúvida " que ficou nas palavras do Sol, ainda insistiu na mesma pergunta:
- Mas o que está ocorrendo,
que lhe tirou a atenção do resto do mundo?
Poderia lhe ajudar, se você me dissesse o motivo.
O Sol ainda encoberto, disse-lhe:
- Acho difícil alguém me ajudar... Muito difícil mesmo... E já que está disposto a conversar, diga-me:
você já amou alguém Condor?
O Condor apoiou-se nas encostas de uma montanha;  abaixou sua cabeça sem olhar para o abismo e respondeu:
- Sim, já amei... Amei uma linda ave, que não era um Condor... Amei e sonhei... Muito... E porque você me pergunta isto? Você que é o Sol! Que possui bem mais dotes do que eu; que possui o poder em suas mãos.
Não é possível que não consegue  conquistar o amor de sua amada. Qualquer dama se renderia à sua luminosidade; ao seu esplendor; ao seu magnetismo natural; ao seu calor...
E antes mesmo que o Condor continuasse, o Sol o interrompeu dizendo:

- Qualquer uma, menos ela... 
O Condor já intrigado de tanta curiosidade, então perguntou: - Quem Sol? Quem é ela? Que dama lhe ofusca os olhos?
O Sol, então olhou para o infinito e disse-lhe com o semblante bem tristonho: - A Lua... A Lua, amigo! 

Neste instante o Condor em respeito ao Sol, segurou seu sorriso e disse-lhe: - A Lua? Como você apaixonou-se por ela? Como isso aconteceu?
O Sol percebendo o espanto do Condor, lhe respondeu: - Aconteceu, que nos encontramos por algumas vezes... Em frações de segundos em alguns lugares, mas nos encontramos! Por que você está surpreso com isso?
O Condor percebendo que o Sol já estava se exaltando, tentou explicar: - Por favor amigo, não quero que fique nervoso comigo. Apenas estranhei a Lua ser sua amada...
- Como estranhou? Nunca lhe perguntei a quem você amou e se tivesse dado certo, você não me responderia da maneira como me respondeu! 
O Condor então disse:   - Sim, você está certo... Desculpe-me! O que estranhei, foi que você viu muito pouco esta bela criatura, para poder se apaixonar por ela.
Neste instante o Sol então respondeu:
- Sim muito pouco... Muito pouco mesmo... Mas nestas poucas vezes, enxerguei dentro dos olhos dela.
Vi toda a beleza que ela trazia dentro de si... Enxerguei o seu coração... Senti-a bem próximo a mim...
Acreditei naquele olhar... Vi cumplicidade... Vi entrega... Vi amor...
O Condor, observou que o Sol lhe falava, mas seus olhos ficavam fixos no infinito, procurando talvez os olhos da Lua. 

Então disse-lhe: - Ora, ora amigo, tenho que pensar em uma maneira de lhe ajudar.
E lhe ajudando, estarei sendo ajudado... não só eu, todo o planeta!
O sol com mais emoção então perguntou:
- Como você poderá me ajudar?
- Devagar amigo!  Primeiro preciso me encontrar com alguns amigos de hábitos noturnos e depois lhe darei a resposta. 

E o Condor saiu voando mais que rapidamente e em menos de cinco horas; quase à noitinha, apareceu junto à encosta de uma montanha, onde o Sol já se reclinara para adormecer e disse-lhe:
- Veja amigo, o que trouxe junto a mim! São vários amigos de hábitos noturnos e todos eles estão dispostos a lhe ajudar se você continuar durante o dia no céu, mais forte do que nunca!
É esta a única condição imposta por eles para lhe ajudar! 


O sol intrigado com tantos animais ao seu redor,  perguntou:
- Então digam, o que vocês fariam?
Neste instante uma coruja,  com a fisionomia bem experiente e sábia, disse-lhe:
- Levaríamos à Lua seus recados, suas notícias... Tudo que precisar!
O Sol neste momento bramiu com grande satisfação ao dito pela coruja. E depois sorriu aliviado dizendo:
- Então digam a ela uma " coisinha " muito importante que nunca tive tempo para dizer;
pois quando nos víamos, ficava tão preocupado pelo pouco tempo de encontro;
que esquecia de lhe dizer...  Digam a ela, que a amo! Que a amo, mais do que tudo!
Que estarei sempre esperando para nos encontrarmos! Que serei guardião do dia
e ela será a guardiã da noite... E trabalhando juntos, os dias e noites se passarão sem erros
e nos veremos novamente! E quando nos encontrarmos novamente, a amarei mais e mais...
Nem que demore meio século para este encontro, mas a amarei!
Os animais neste instante se emocionaram com a clareza e transparência do Sol.
Agora sim, ele foi sincero em seu sentimento. Ele não o escondeu entre as nuvens escuras
e não teve medo de falar o que sentia.
E a noite chegou. A primeira a levar o recado foi a coruja.
Do alto de uma árvore, disse à Lua as palavras do Sol.
Naquela noite, uma chuva muito branda mas " molhada ", molhou a Terra.
Cada gota de água da chuva, representava emoções e sensibilidade da Lua.
Cada gota de chuva representava as lágrimas de amor da Lua!
Lágrimas de esperanças...
Lágrimas de satisfação...
Lágrimas de confiança...
Agora a Lua sabia que não estava só...
E um dia, se encontraria novamente com o Sol...
Nem que demorasse meio século...
Mas o encontraria...

Na imensidão do tempo...