terça-feira, 8 de junho de 2010

Um ausente

Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.
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Houve um pacto implícito que rompeste
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e sem te despedires foste embora. 
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Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, 
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a comum aquiescência de viver
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e explorar os rumos de obscuridade,
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sem prazo, sem consulta; sem provocação,
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até o limite das folhas caídas na hora de cair. 
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Antecipaste a hora. Teu ponteiro enloqueceu,
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enloquecendo nossas horas.
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Que poderias ter feito de mais grave 
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do que o ato sem continuação, o ato em si, 
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o ato que não ousamos nem sabemos ousar ...
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porque depois dele não há nada?
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Tenho razão para sentir saudade de ti, 
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de nossa convivência em falas camaradas,
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simples apertar de mãos, nem isso,
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voz modulando sílabas conhecidas e banais,
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que eram sempre certeza e segurança.
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Sim, tenho saudades. 
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Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto 
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nas leis da amizade e da natureza 
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nem nos deixaste sequer o direito de indagar
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porque o fizeste, porque te foste.
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