Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.    
.     
Houve um pacto implícito que rompeste     
.     
e sem te despedires foste embora.  
.     
Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral,  
.     
a comum aquiescência de viver     
.     
e explorar os rumos de obscuridade,     
.     
sem prazo, sem consulta; sem provocação,     
.     
até o limite das folhas caídas na hora de cair.  
.     
Antecipaste a hora. Teu ponteiro enloqueceu,     
.     
enloquecendo nossas horas.     
.     
Que poderias ter feito de mais grave  
.     
do que o ato sem continuação, o ato em si,  
.     
o ato que não ousamos nem sabemos ousar ...     
.     
porque depois dele não há nada?     
.     
Tenho razão para sentir saudade de ti,  
.     
de nossa convivência em falas camaradas,     
.     
simples apertar de mãos, nem isso,     
.     
voz modulando sílabas conhecidas e banais,     
.     
que eram sempre certeza e segurança.     
.     
Sim, tenho saudades.  
.     
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto  
.     
nas leis da amizade e da natureza  
.     
nem nos deixaste sequer o direito de indagar     
.     
porque o fizeste, porque te foste.     
.     
.     
.
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